sábado, 4 de junho de 2011

Normas regulamentadoras?

Não há normas regulamentadoras sobre a planta cicuta pelo simples motivo de esta ser uma planta silvestre e o contato com a mesma se dar quase que somente pela ingestão acidental (ou proposital, nos casos de envenenamento). Os casos de intoxicação ocorrem com pouquíssima frenquência e, como já dito, sua ingestão é acidental. Por isso, o que há é a necessidade de que as pessoas, ao estarem frente a plantas desconhecidas, não façam uso destas a não ser que sejam capazes de reconhecer-las em relação a sua toxicidade.


Por Anamim Horokoski, Louize Souza e Thamis Rodrigues
 

Caso clínico


W.S, 25 anos, chega ao hospital logo após sofrer uma convulsão enquanto disputava um campeonato de luta medieval, apresentando hemorragia na esclerótica. Suspeitando de intoxicação, foram realizados tratamentos suportivos como lavagem gástrica e a utilização de carvão ativado. Após várias hipóteses supostas pela equipe médica, foram realizados alguns exames, como ressonância (suspeita de hematoma subdural) e ultra sonografia (suspeita de câncer). Enquanto recebia os atendimentos necessários, foram surgindo outros sintomas, como vômito, taquicardia e bolhas no corpo, além de rabdomiólise, peliose hepática e endocardite, fatores essenciais para o diagnóstico. Só após a descoberta de que houve ingestão de cicuta, foi realizado um exame chamado cromatografia gasosa, que revelou grandes concentrações de piperidina, determinante para a finalização do caso.


Resultado dos exames:
Ressonância: negativo para hematoma subdural.
Ultra sonografia: negativo para câncer.
Cromatografia gasosa: altos níveis de piperidina.

 1- Qual a possível causa dos sintomas apresentados pelo paciente?
Como o paciente participava de lutas pode se presumir uso de esteróides anabolizantes em abuso, onde alguns sintomas clássicos são danos no fígado, insuficiência renal, hipertensão arterial, acne grave e tremor, que com a ingestão de cicuta teria acelerado o aparecimento desses efeitos prejudiciais, já que a cicuta pode provocar sintomas como rabdomiólise, insuficiência renal e danos hepáticos, como os observados pelo paciente (rabdomiólise e pelióse hepática).
            A rabdomiólise é uma destruição muscular geralmente causada por excesso de atividades musculares e é também indicadora de insuficiência renal. Já a pelióse hepática é uma doença hepática vascular induzida por drogas. É caracterizada por cavidades preenchidas por sangue que estão distribuídas randomicamente pelo lóbulo hepático. E por fim o uso compartilhado de esteróides por seringas e agulhas não esterilizadas é comum e pode expor o indivíduo a doenças como Aids, hepatites B e C e endocardite bacteriana (infecção bacteriana do endocárdio).

2- O que significa o achado de piperidina na cromatografia gasosa?
A piperidina é um derivado da coniina, alcalóide de maior importância encontrado na cicuta. Ao encontrar altos níveis de piperidina na cromatografia gasosa, essa indica que realmente houve intoxicação por cicuta.

3- Qual o tratamento adequado?
Para o uso abusivo de esteróides usa-se em geral terapia de suporte combinado com a educação sobre possíveis sintomas de abstinência. Se os sintomas forem graves ou prolongados, medicamentos paliativos, como, antidepressivos e analgésicos, ou hospitalização pode ser necessário .
O tratamento de vitimas de envenenamento por cicuta consiste em: cuidados de suporte, incluindo entubação, sedação e ventilação, já que não existem antídotos conhecidos. O suporte respiratório, lavagem gástrica ou a administração de carvão ativado devem ser procedimentos aplicados o mais rápido possível. Pode-se recorrer ao uso de anticonvulsivantes quando tal se mostrar necessário.

4- Quais os sinais e sintomas prováveis da intoxicação por cicuta, sem a presença de esteróides?
Os alcalóides da cicuta têm um efeito tóxico sobre o ser humano. Atuam deprimindo a atividade autônoma ganglionar com um efeito preliminar sobre a medula espinhal, bloqueando os reflexos espinhais, e em grandes quantidades causam bloqueio neuromuscular, por ação sobre os receptores nicotínicos. Esta ação pode originar depressão respiratória e lesão cerebral por anóxia, com eventual morte num período de 24 horas após a ingestão. Apesar de rabdomiólise e insuficiência renal aguda associada a intoxicação por cicuta, verificou-se ainda que em envenenamentos sem efeitos tóxicos diretos, há um envolvimentos também de fígado e rins. A cicuta também pode causar asfixia agonizante com convulsões, acidose metabólica severa, bradicardia e hipotensão.

Referências


1-Disponível em: 



2- Disponível em: 
Acessado em 2 de junho de 2011.


3-Disponível em:


Acessado em 2 de junho de 2011.



Por Thamis R Soares

Cicuta: Análise Toxicológica


O site WIX - Cicuta foi montado como requisito parcial à matéria de Toxicologia Mecanística do Curso de Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP), por Andreia Pereira, Cátia Moreira e Luís Teixeira.
Há disponíveis informações sobre história, mecanismo de ação, sintomas, antídotos, curiosidades entre outros temas relacionados à Cicuta e a partir destas é possível ter-se uma idéia sobre essa planta venenosa.

Para visitar o site clique aqui.

Por Anamim Horokoski 

Five little pigs (2003)

            Five little pigs, de 2003, é um filme baseado no livro de Agatha Christie lançado em 1943 que relata uma interessante história de um envenenamento por Cicuta.

Sinopse do livro

Há dezesseis anos uma mulher fora condenada por assassinar seu marido. Ao morrer na prisão, deixou uma carta para sua filha de cinco anos, Caroline, afirmando sua inocência. Caroline sabe que precisa do melhor detetive do mundo para esta missão quase impossível: revolver o passado à procura do verdadeiro assassino, para limpar o nome de sua mãe. Hercule Poirot aceita a missão, partindo de uma cantiga de ninar inglesa – Os Cinco Porquinhos - que dá título à obra.

Vídeo musical sobre o filme



Por Anamim Horokoski

Water Hemlock Poisoning

The journal of the American Medical Association, 18 de maio de 1994 – Volume 271, nº 19. Página 1475.


História

Em 5 de outubro de 1992 um jovem de 23 anos e seu irmão de 39 anos foram para as florestas costeiras do Maine. O mais novo coletou de uma área pantanosa uma planta e nesta deu três mordidas em sua raiz. Seu irmão de uma mordida na mesma raiz. Dentro de 30 minutos, o mais novo vomitou e começou a ter convulsões. Eles caminharam pelas arvores aproximadamente 30 minutos depois de o mais jovem ter ficado mal e então ligaram para o serviço de resgate.
Quinze minutos após a ligação, a emergência médica chegou e encontrou o mais jovem não-responsivo e cianótico com leve taquicardia, pupilas dilatadas e profunda salivação. Ocorreram severas convulsões tônico-clonicas seguidas de períodos de apnéia. Ele foi entubado e transportado para o departamento médico de emergência. Os médicos realizaram lavagem gástrica e administraram carvão ativado. Seu ritmo cardíaco foi alterado por fibrilação e quatro tentativas de ressuscitação não tiveram sucesso. Ele morreu aproximadamente três horas após a ingestão da raiz.
Embora o irmão mais velho apreentar-se assintomático quando chegou ao departamento de emergência, foi tratado profilaticamente com lavagem gástrica e administração de carvão ativado. Ele começou a ter convulsões e a delirar durante duas horas após a ingestão. Após ser estabilizado, foi transferido para um centro terciário de cuidados para observação. Não foram reportados efeitos adversos adicionais.
A raiz ingerida pelos irmãos foi identificada como water hemlock (Cicuta maculata). Em outubro de 1993, amostras do fígado congelado, sangue e conteúdo gástrico do homem foram analisadas por cromatografia líquida de alta eficiência para cicutoxina, a substância venenosa da cicuta d’água. Cicutoxina, uma neurotoxina, não foi detectada; no entanto, a toxina é instável a pode ser degradada durante o armazenamento.

Nota editorial do CDC (Centers for Disease Control)

De acordo com os dados do CDC do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde de 1979 à 1988 pelo menos 58 pessoas nos Estados Unidos morreram após ingerir plantas venenosas que tinham sido confundidas com frutos comestíveis ou vegetais e dentro destes resultados a ingestão de cicuta foi causa de pelo menos cinco dessas mortes. Já no período de 1989 à 1992, a Associação Americana dos Centros de Controle de Intoxicações registrou quatro mortes atribuídas à ingestão de plantas venenosas.  
Cicuta d’água é da mesma família da salsa, nabo, aipo e cenoura. Ela se parece muito com uma espécie de cenoura de cor branca, a parsnips, cheira a nabo fresco e tem um gosto adocicado, o que pode muitas vezes chamar a atenção de uma pessoa para ingeri-la, mas esta é a planta com maior grau de toxicidade da América do Norte.
A raiz é a parte da planta com maior concentração de cicutoxina, mas esta está presente em outras partes da cicuta d’água. A ingestão de uma porção de 2 à 3cm da raiz pode ser fatal em adultos e o uso de brinquedos feitos a partir do caule da planta tem sido associado com mortes em crianças. A planta é tóxica em todos os estágios de desenvolvimento, porém é durante a primavera que sua toxicidade se torna mais intensa. As intoxicações são resultantes tipicamente da sua ingestão, porém, a cicutoxina pode ser absorvida também pela pele.
Os sintomas observados em uma intoxicação leve por cicuta d’água são náusea, dor abdominal e desconforto epigástrico dentro de 15 à 90 minutos após sua ingestão. Sudorese, rubor e tontura também foram reportados. No caso de intoxicações severas, salivação profusa, transpiração, secreção brônquica e desconforto respiratório levando a cianose se desenvolvem logo após a ingestão. Severas convulsões ocorrem após os sintomas iniciais e a morte é frequentemente resultado de um estado epilético quando há a ingestão de grandes quantidades de cicuta.
A taxa de letalidade para as intoxicações reportadas de 1900 à 1975 foi de 30% e a ultima fatalidade atribuída à ingestão de cicuta d’água em Maine ocorreu no inicio dos anos 70.
Por fim, vale lembrar que não existem antídotos e o tratamento é de suporte. Complicações associadas com sérias intoxicações incluem rabdomiólise com falência renal (hematúria, glucosúria e proteinúria transitórias), acidose metabólica severa, bradicardia e hipotensão.
            Assim, este relato ressalta a necessidade de pessoas que irão ingerir plantas silvestres comestíveis estarem conscientes (hábeis) e serem capazes de reconhecer plantas venenosas daquela área.

Referências

JAMA. Water Hemlock Poisoning - Maine,1992. Disponível em http://jama.ama-assn.org/content/271/19/1475.full.pdf+html Acessado em 01/06/2011.

Por Anamim Horokoski